O Pulmão do Rio ainda respira?
Sinto um grande incomodo quando escuto na mesa do bar “ah, mas o Brasil já era, não adianta mudar um pouco aqui ou ali, porque o problema é muito maior, só se faz Brasil pra gringo ver”. Preciso concordar que, vide o nosso histórico, é difícil ser otimista. Mas, por uma infantil teimosia - ainda bem que ela segue viva - continuo acreditando nas formigas miúdas que fazem a diferença nas suas colônias.
Longe do Brazil do Zé Carioca, aliás, longe até do que a gente conhece de Brasil, tem gente persistindo em fazer esse país respirar.
E o Russo é uma dessas formigas, sendo o “formigueiro” que ele cuida, diariamente, a Baía de Guanabara. Sim, esses registros foram feitos ali, entre Guapimirim, Niterói, Itaboraí, Duque de Caxias, e os outros mais de 10 municípios que contemplam essa gigantesca bacia hidrográfica.
Pescador, fiscal da ICMBio da APA de Guapimirim e um profundo conhecedor daquelas águas, o Russo tem um papo carregado de conhecimento que impressiona quem se permite alguns minutos de escuta atenta.
Por falar em atenção, ele também surpreende por esse dote: não importa o papo, a direção do barco, a preocupação com o relógio, ou as diversas espécies que estão passando no céu e são nomeadas, uma a uma, por ele, poucos minutos são suficientes pra que ele encontre os 28 botos que ainda sobrevivem na baía. E que momento mágico esse conjunto de vida e atenção nos proporciona!
Se até aqui está difícil associar esse relato e as fotografias - ditas por muitos como “gringas” - com a realidade do que você conhece desse lugar, te confesso que eu também só acreditei vendo.
Imersa em uma dicotomia latente, essa que costura o nosso país todos os dias, demorei pra me convencer de que parte daquilo que parece ser só poluição, ainda vive - graças à ajuda incansável de pessoas como o Russo.
O Brasil tem jeito. E é só por essas "formigas".
Registros de um espelho que reflete o azul do céu. Este que teima em alumiar mentes de pessoas que não desistem de lutar.
























